terça-feira, 7 de agosto de 2012

REFLEXÃO: "A internet esconde quem discorda de você"

Autor do livro O filtro invisível, o ativista digital americano Eli Pariser alerta contra a personalização do conteúdo em sites como o Google e o Facebook

DANILO VENTICINQUE


ATIVISTA Eli Pariser em foto para divulgação de seu livro. Para ele, os usuários deveriam controlar  a maneira como suas informações pessoais são usadas na internet  (Foto: Jenny Gillette)

Numa tarde em 2011, ao acessar seu perfil no Facebook, o americano Eli Pariser, de 31 anos, notou uma mudança repentina. Sem aviso, todos os posts de seus amigos republicanos tinham desaparecido. A fórmula usada pelo site para decidir que posts eram mais relevantes determinara que, como ele clicava mais em links enviados por democratas, as atualizações desses amigos eram mais importantes que as dos outros e deveriam receber mais destaque. A mudança não lhe agradou. Embora trabalhasse num site que arrecadava doações para as campanhas de candidatos democratas, Pariser não queria deixar de ter acesso às opiniões de colegas conservadores, que considerava igualmente importantes para seu trabalho.

PROVOCAÇÃO A edição brasileira de O filtro invisível. O livro causou debates intensos sobre privacidade e liberdade  de expressão  na internet  (Foto: divulgação)

A busca por uma explicação para o sumiço dos amigos republicanos inspirou o livro O filtro invisível, que aborda os perigos da personalização do conteúdo em sites como o Facebook e o Google. Quanto maior for o esforço para oferecer informações personalizadas a cada usuário, maior o risco de que os filtros isolem as pessoas em bolhas virtuais, sem nenhum acesso a opiniões diferentes das suas. Além de transformar o autor num dos palestrantes mais populares do mundo da tecnologia, o livro provocou um debate intenso nas redes sociais e inspirou pequenas mudanças no sistema de buscas do Google.

Na prática, nós não estamos todos na mesma internet.

Duas pessoas podem acessar
o mesmo site no mesmo momento
e ver informações diferentes

ÉPOCA – O livro compara a ação dos filtros à censura. Não é exagero?
Pariser –
É uma forma muito sutil de censura. Você não é proibido de ver nada, mas sua atenção é dirigida de forma que você não note que a informação existe. Como dependemos cada vez mais dos resultados de busca ou de indicações nas redes sociais para chegar a um conteúdo na internet, o filtro invisível pode esconder páginas e pessoas definitivamente. As consequências disso podem ser muito graves.

ÉPOCA – O que podemos fazer para evitar esses filtros quando estamos na internet?
Pariser –
É muito difícil acessar a internet sem fornecer informações pessoais. O Facebook não existe sem isso. Alguém que quisesse escapar do filtro invisível teria de ficar fora dessa rede social. O Google também depende muito dessas informações para funcionar. O que precisamos fazer não é evitar usar esses sites, mas sim lutar para que eles nos permitam escolher se acessaremos a versão personalizada ou não. Também deveríamos ter mais controle sobre o que é feito com nossas informações pessoais. Elas são valiosas. Quando acessamos um serviço teoricamente gratuito, como o Gmail ou o Facebook, na verdade estamos pagando com nossos dados, que têm um valor de mercado. Essas informações ajudam a construir filtros de conteúdo ainda mais elaborados, usados para vender publicidade. Não sabemos o preço que estamos pagando para acessar um site gratuito, mas as empresas sabem.

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